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26 maio 2018

Qualidade x quantidade

Há muito tempo temos discutido a respeito desta combinação: é possível associar qualidade e quantidade? Esta é uma questão que aflige todos os setores da nossa vida, inclusive no que se refere à nossa querida especialidade.

Quando nos aprofundamos sobre este tema há, geralmente, duas opiniões mais frequentes. Há quem acredite que os processos possam ser padronizados e aperfeiçoados ao extremo, garantindo bons resultados em larga escala. Por outro lado, há os que apostam na qualidade como resultado da customização e atenção intensiva individualizada. Devo confessar que tenho perseguido a excelência em minhas atividades clínicas e docentes com base na segunda opção.

A partir desta reflexão inicial, gostaria de derivar a discussão para o seguinte aspecto. Nunca em nossa história tivemos tantos cursos de graduação em Odontologia e de pós-graduação em Ortodontia, em seus diferentes níveis, como os observados atualmente, mas, será que esta enorme quantidade de ortodontistas que são formados anualmente em nosso país têm os requisitos para exercer a especialidade com o mínimo de qualidade?

Quem está ligado à docência sabe exatamente onde pretendo chegar. Infelizmente, nossos alunos chegam cada vez mais despreparados aos excessivos e desprestigiados cursos de graduação em Odontologia, saem, na maioria das vezes, mal formados e alimentam os cursos de pós-graduação, que também não conseguem corrigir os erros de sua formação profissional. Como consequência, estes muitos profissionais disponíveis no mercado com formação deficiente são recrutados por clínicas que prezam apenas pela quantidade. Este excesso de ortodontistas e clínicas drenam os pacientes, restando, a muitos colegas, a abertura de novos cursos para manterem seus ganhos financeiros. Na minha opinião, este é o ciclo que desvirtua e desvaloriza a Ortodontia em nosso país.

Reconheço o esforço de nossas entidades de classe para regulamentar a especialidade, mas acredito que precisamos investir ainda mais na regulação e na fiscalização do cumprimento das exigências básicas para abertura e funcionamento de cursos de graduação e de pós-graduação em Ortodontia.

Muitos colegas também argumentam que o mercado regula e apenas os bons cursos irão permanecer em um determinado prazo de tempo. Particularmente não acredito nesta promessa, pois o que temos visto é uma regulamentação apenas pela redução dos custos e com uma consequente perda ainda maior de qualidade.

Acredito que esteja muito claro que um dos grandes problemas da Ortodontia no Brasil atualmente seja a quantidade. Se queremos melhorar a qualidade teremos que repensar a quantidade.